Desde muito criança, uma das
frases que eu mais escutava era “Nunca desista dos seus sonhos!”. E quando não
esta, era alguma outra de igual significado. A mensagem sempre foi clara e focada em uma
palavra: fé. Fé em algo maior, fé em si próprio, fé no futuro, fé na
humanidade. Fé!
Os anos se passaram e esse tipo
de pensamento nunca me abandonou. Algumas - muitas! - vezes me dei mal pensando
no melhor das pessoas, das situações e até de mim mesma; nada mudou. E por mais presente que fosse em minha vida, ninguém jamais me disse para
nunca desistir dos meus sonhos. Talvez se
estes fossem simples idealizações ou platônicos amores, eu aceitaria, mas não
são! Tenho sonhos adolescentes que no decorrer da minha vida adulta foram se
expandindo até se formarem realizáveis. Fáceis? Não, dificilmente algo bom pode
ser definido como “fácil”. No hoje, meus sonhos chamam-se "metas".
Recentemente, pedaços de minha
alma vêm sendo arrancados de forma proporcional às vezes em que ouvi me pedirem
para abandonar meus sonhos. E até perde-lo, eu realmente nunca parei para perceber
o quanto esse positivismo sempre me pertenceu. A gente realmente só dá valor a
algo quando o perdemos, e sempre estamos correndo o risco de perder algumas
coisas. Inclusive, se em algum dia eu já fui mais que uma escritora auto-idealizada,
também perdi isso por aí. É meio triste
a forma efêmera que certas coisas adquirem antes mesmo de partirem.
Diante de tantas perdas, esse tipo
de pensamento encrustrou em minha cabeça, de uma maneira que me fez relacionar
essa triste epifania com tudo que a vida vem colocando em meu caminho. As
canções de amor e atenção em excesso dedicadas ao garoto, o carinho de mãe, a
cachaça com Coca-cola do final de semana, a roda de violão com os amigos; tudo
isso é resultado de fases em que outrora as coisas pareciam mais corretas. E
assim como um dia essa fase chegou, um dia ela precisa acabar. Me fez feliz por
tempo suficiente para descobrir que tratava-se de uma missão sem propósito; um
planeta gasoso sobre o qual eu não poderia pousar.
Felizes os ingênuos, os burros e
os filhos-da-puta.
Infeliz de mim, que sou amaldiçoada
com a doença dos anos, que só penso em pensar.
Ontem, entre cada novo gole da
tão bem vinda cachaça comecei a perceber o peso da idade enquanto sentia a
presença de cada vez mais pensamentos os quais eu não posso – ou não consigo –
dar vazão. Sempre tive a facilidade de traduzí-los em parágrafos, mas esse
artesanato leva tempo, é cansativo e, certas vezes, quando finalmente
deglutimos um assunto, já somos atropelados pela urgência de uma vida que somos
obrigados a viver. A vida passa fulminante enquanto escrevemos sentindo e
avaliando o peso de cada palavra. Porém, escrever aqui foi o que me impediu de
fechar os olhos para a luz. Esbravejar por escrito – mesmo com a consciência
que alguém sequer lerá – é confortante, justamente quando não me serviam mais as
opiniões sensatas.
Digo isso porque, afinal, a gente
sempre sabe quando tá fazendo merda.
Na verdade, compactuo com a
hipótese de que, se não exercermos controle firme sobre nossos pensamentos e
atitudes, transformamo-nos em nada mais do que o lodo do lodo. Descobrir-se
imperfeito, defeituoso e incapaz (e escrever sobre isso) é o que me impede de
desmoronar. Essa obra inacabada que todos somos precisa de andaimes, estacas e
apoios para se manter de pé. Família, amigos, músicas, drogas… usamos o que
temos ao nosso alcance, embora saibamos que jamais estaremos prontos. Jamais.
Viver é perigoso. O mundo é
veloz, cruel e cheio de arestas.
Abandonar seus sonhos não vai mudar
sua realidade. Lutar por eles, sim.
“Milagres acontecem quando a
gente vai à luta!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Todo comentário é bem vindo. Bem vindo. :*