Aos poucos vou me acostumando com essa rotina nada rotineira, onde cada novo dia é realmente novo e empolgante e até mesmo irritante. É irritante estar sempre com as mesmas pessoas dentro de uma casa e também é irritante ver as mesmas pessoas no ambiente de trabalho. Irritante porque não quero me apegar; não preciso de mais despedidas nessa minha vida mais que livre. Lucas, o Paraíba, sempre me definiu muito bem quando cantou "o asfalto é minha casa, mas não dá pra chamar de lar". No fundo eu gosto.
O trabalho vezes maçante, vezes empolgante tem altos e baixos tão bem delineados que servem de incentivo e ansiedade por um novo dia. Isso sempre trás aquele gostinho de "quero mais!" e a força de vontade de viver mais um dia longe das pessoas que amo. Tudo isso me dá vontade e me incentiva a estudar mais, me empenhar mais e mudar mais. Tudo isso me fez escrever novamente...
O meu sofá está longe e o sofá daqui está longe de ser capaz de sequer substituir o meu sofá, mas não tenho achado tudo isso tão absurdo e difícil como achei nos primeiros dias. Querendo ou não, fiz amizades, criei gostos e fantasiei na minha cabeça juvenil (ainda que as costa doam) morar por aqui em algum dia. Quem sabe...? Eu sei. Ou pelo menos acho que sei dos meus planos.
E de repente eu comecei a me sentir capaz, inteligente... e percebi que eu posso lidar com isso, ministrar isso e trabalhar com isso da melhor forma possível nesses três meses de BBB sem câmeras em que me meti.
Gosto do acordar cedo todos os dias e sentir a maresia me estapear a face durante todo o percurso. Gosto de ver o mar, as ondas e saber que passar cerca de 6 horas por dia em um barco não é capaz de me enjoar, enojar, cansar nem nada semelhante. Às vezes penso que nasci pra isso. Às vezes penso que nasci com sérios probleminhas, porque não consigo dizer os prós sem pensar nos contras.
Sinto falta da rotina de horas contadas e reservadas, da dependência de lotação para chegar aos lugares. Sinto falta de filas, correria, de população. Alguém esqueceu de me avisar que biólogo tem que ser 90% "bicho do mato" para se acostumar com essas situações de extremo isolamento social. Muito irônico, vindo de quem gosta mais de bicho que gente. Como posso sentir falta até das coisas que não gosto..!?
Meu sofá poderia ser portátil. Não que ele não seja, mas bem que eu gostaria de levá-lo de um lado para o outro comigo. Não que eu esteja falando realmente de um móvel, mas você entendeu. Acho!
Sinto falta dessas longas conversas, mas acredito que distância faz bem. Saudade faz bem; crescer também.
E você já sabe: em qualquer km do meu asfalto, estou pensando em você.