quarta-feira, 18 de março de 2015

Sobre toda minha ausência injustificada.

Tenho escrito menos. E vivido um pouco mais.

A literatura de meus dias perdeu o caráter de microponto, por isso não me vejo mais apenas sentando e postando. Minha vida virou um romance que não mais se capitula em poucos parágrafos. Muitas vezes abandonei em branco o texto, pois olhava míope para dentro de mim e nada via senão o nebuloso vulto da ulceração que ainda gritava em vermelho. Precisava encontrar um caminho para a superfície, mas no fundo daquele poço eu encontrei um par de lentes.  Eu poderia dizer que fui acometida por uma abstinência de sensações às quais já estava acostumada. Ao invés disso, escolhi viver. Passei, então, a viver mais.

Durante esse último Verão, senti que não preciso mais contar aos meus netos que passei o tempo todo jogando dominó ou fazendo pentakills contra bots em Summoner’s Rift. No meio de toda essa (re)descoberta da vida, me veio então à mente a memória da “Síndrome dos 20 e poucos anos”. Não me recordo quando foi a primeira vez que tive contato com essa definição, porém até hoje me surpreendo com a veracidade por trás disso.  As amizades diminuem, o cansaço aumenta e um beijo faz o mundo gira bem mais rápido que a Pitty previa em “Equalize”. O mundo pede mais atitudes e menos definições. O mundo pede definições que só são alcançáveis mediante mais atitudes.

Hoje, cá estou no alto do meu terceiro andar onde não vejo mais o pôr-do-Sol nem o rio que eu aprendi a amar; hoje, bem no auge dos meus 24 anos, as costas doem um pouco mais, ainda me divirto com a mesma gratidão, preciso de um pouco mais de álcool para viver e cada vez mais me identifico com os tópicos dessa tal crise. Entretanto, algumas coisas começam a pesar mais, e olha que não me refiro às minhas próprias gordurinhas (!) e sim ao peso que atribuímos às pessoas e, principalmente, ao papel que estas ocupam em nossas vidas.

Aquela definição de “melhor amigo” que parecia tão importante nos cadernos de perguntas na escola hoje parece banal demais para ser tão levada em conta assim. Talvez seja eu que nunca sei verdadeiramente responder quem é meu melhor amigo.  Possuo poucos amigos, alguns colegas e incrivelmente um estádio inteiro de companhia para beber. Sério, poderíamos até criar uma torcida organizada do Flamengo e lotar 50% dos jogos, se alguns deles não tivessem mau gosto com futebol (sim Pedro, essa foi para você).

Em todo o caso, não são esses vãos acasos que acabam por definir isso. Não sei se estou velha demais ou se é normal pensar que não preciso encontrar ou conversar o dia inteiro com algumas pessoas para que estes sejam considerados melhores amigos. O importante é saber que eles estarão ali a meu lado. Certas coisas nunca são esquecidas e atitudes já sobrepõem toda e qualquer frequência.
 Sei que ando meio desligada, meio sumida, meio egoísta... Mas se tem algo que nunca deixarei de ser é sincera ao declarar meu amor por essas pessoas que por vezes dão o ar da graça ao vir dançar em minha vida. 

A vida ensina, a gente aprende. No final das contas, ao invés de me perder em devaneios eu deveria somente aproveitar e agradecer às pessoas que guardo debaixo das minhas asas de Passarini com todo o carinho e proteção ao poder afirmar que são meus. Meus companheiros, amigos, irmãos e acima de tudo, meus.  Alguns amigos vão apenas sumir; às vezes é preciso perder o convite anual de Jingle Bells Rock de todo o Natal, abrir mão de certas amizades e deixar que voem para outros ares no território de outras abelhas-rainhas.

Cansei de lutar contra mim mesma, pois já me cobrem o corpo feridas em diferentes fases de cicatrização. Aqui estou, pronta para me aplicar com algumas doses cavalares de vocês, se assim me permitirem. Eu já não quero mais viver sem essa morfina que batizei com o nome de cada um de vocês.


Voltei a viver. Viver a vida, viver a ilusão, viver a correria. Viver esse romance não capitulado é estar em apuros. Estou vivendo e não quero ser salva.